segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Fernando Pessoa:Poeta Plural

Fernando Pessoa nasceu em 1888, em Lisboa. O poeta lisboeta é um daqueles poetas que se pode afirmar, sem erro, que viveu e multiplicou intensamente o seu tempo, "Fernando não é uma, mas várias pessoas".

Considerado o maior poeta de Portugal, criou várias teorias estéticas, assinando suas obras com heterônimos. O que mais intriga os leitores e fascina os estudiosos é o fenômeno da multiplicação do poeta em diversos outros escritores, heterônimos, com nome, existência e estilos próprios.
Fernando Pessoa, ele mesmo (ortônimo) e, ao mesmo tempo, diversos outros poetas, como: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Bernardo Soares, Vicente Guedes, C Pacheco, Antônio Mora e Alexandre Search. Para vocês entenderem melhor a heteronímia, gostaria que imaginassem um desinformado jornalista entrevistando o poeta.
- Esses poetas a quem o senhor se refere são a mesma coisa que pseudônimos?
Irritadíssimo ele responde:
- Não, pseudônimo é quando o poeta escreve como ele mesmo, e assina como se fosse outra pessoa, Eu não, quando escrevo como eu mesmo, assino o meu nome. Agora, quando outras pessoas escrevem por meu intermédio, então os poemas recebem as assinaturas delas próprias.

Entre todos os heterônimos os mais estudados e conhecidos por nós são três, além do ortônimo Pessoa, ele mesmo.

Alberto Caeiro da Silva, nascido em 1889 em Lisboa, e nessa cidade faleceu, tuberculoso, em 1915. Caeiro é o mestre dos demais heterônimos. Foge para a natureza, procura viver tão simplesmente como as flores, as fontes, as aves. Não é poeta de questionamentos metafísicos, as crises existenciais não fazem parte de seu estado de espírito. É poeta que procura viver o presente sem grandes, preocupações, o fato de viver já o satisfaz. Para ele não existe necessidades senão aquelas que podem ser captadas pelos sentidos. Nele o real é real; o concreto é o que se pode ver, ouvir,sentir. Sem ater-se ao passado, nem projetar-se no futuro, vive calmamente o presente, próximo das filosofias orientais, principalmente o zen- budismo.

Ricardo Reis nasceu em 28 de Janeiro de 1914, discípulo de Alberto Caeiro, de quem aproveita a lição de paganismo e admira a natural inocência. O poeta representa o lado humanístico de Fernando Pessoa, recuperando os aspectos da Antiguidade Clássica. Poeta lúcido e racional, comedido e correto.

Álvaro de Campos nasceu em 1890, homem cosmopolita e moderno. É o heterônimo que representa a parte mais audaciosa a que Fernando Pessoa se permitiu. Álvares de Campos é engenheiro de profissão, poeta que se sente ansioso pelo progresso de sua terra, e, ao mesmo tempo sente-se tolhido pelos insucessos e marasmo dos portugueses.

Para entender melhor a grandiosidade desse gênio da literatura portuguesa, recomendo uma visita ao Museu da Língua Portuguesa, pois é maravilhoso estar em pessoa na presença de Pessoa...

Este entre todos os poemas este é o meu predileto, pois como Caeiro adoro sentir sensações, pois essas me fazem muito bem.


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914

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